O crescimento de 11,1% nas vendas de imóveis usados em dezembro no Estado de São Paulo não salvou do vermelho o ano de 2015. As vendas de casas e apartamentos acumularam queda de 8,27% no ano ado, segundo a apuração do Conselho Regional de Corretores de Imóveis do Estado de São Paulo (Creci-SP) com 1.070 imobiliárias de 37 cidades do Estado.
Foi o oposto do que aconteceu com a locação de casas e apartamentos, que tiveram queda de 9,6% em dezembro, mas acumularam crescimento de 48,02% no ano de 2015. Esse resultado mostrou mudança radical no comportamento desse mercado, que havia encerrado o ano de 2014 com queda acumulada de 44,43%. No segmento de vendas, o saldo já era negativo, com queda de 16,4%.
“As famílias tiveram o orçamento comprometido pela crise econômica e, impossibilitadas de comprar a casa própria, tiveram de apelar para a locação”, declara José Augusto Viana Neto, presidente do Creci-SP. “Esse movimento de troca da compra pela locação deverá continuar neste ano, e, caso cresça muito, poderá se refletir nos valores dos aluguéis de forma mais intensa que no ano ado”, afirma.
Os resultados consolidados das pesquisas do Creci-SP mostram que a crise econômica impactou os preços dos imóveis usados já em 2015. O índice que apura o comportamento mensal do conjunto de preços de venda e de locação residencial de imóveis no Estado, acusou aumento de 4,4% em dezembro do ano ado, bem acima da inflação de 0,96% medida pelo IPCA do IBGE nesse mês. Mas a variação em 2015 foi de 3,3%, praticamente um terço da variação anual do IPCA, que ficou em 10,67%.
“A renda em queda, o aumento do desemprego e o encarecimento do financiamento imobiliário seguraram os preços, mesmo havendo aumento da procura no caso da locação”, afirma José Augusto Viana, presidente do Creci-SP.
“E são esses mesmos fatores que tornam previsíveis a repetição desse quadro neste ano, com nova queda nas vendas de imóveis usados e aumento da locação, se nada mudar na Economia”, diz.
Viana Neto lembra que “não há até agora nenhum sinal aparente ou evidente de reversão” de indicadores que retratam os efeitos da crise que marcou 2015, o que justifica seu prognóstico sobre 2016. Os indicadores que mais o preocupam são a perda de poder aquisitivo da população (queda de 3,7% do rendimento real em 2015 sobre 2014, segundo o IBGE), o aumento do desemprego (de 4,8% de 2014 para 6,8% em 2015, idem), o aumento do juros e a redução dos financiamentos imobiliários (redução de 33% em 2015 sobre 2014, segundo a Abecip).
“Foi acertada a decisão do governo de destinar R$ 10 bilhões do FGTS para os financiamentos, mas isso é pouco para um País que tem um déficit habitacional estimado de 5,4 milhões de habitações”, enfatiza o presidente do Creci-SP.
“É preciso fazer mais, apressar decisões como forçar a destinação pelos bancos, via liberação compulsória, de maior volume de recursos para os financiamentos, alongar os prazos de pagamento dos empréstimos e reduzir os juros e os custos dessas operações”, afirma.
Financiamentos puxam vendas
Os financiamentos bancários e os donos de imóveis que aceitaram parcelar o pagamento foram os responsáveis pelo bom desempenho do mercado de venda de imóveis usados em dezembro de 2015. Os dois responderam por 56,07% das vendas efetivadas nas 1.070 imobiliárias de 37 cidades pesquisadas pelo Creci-SP.
As imobiliárias consultadas venderam 57,01% do total em apartamentos e 41,99% em casas. Os financiamentos da Caixa Econômica Federal e de outros bancos responderam por 45,79% das vendas, as transações feitas à vista por 43,61% e as vendas financiadas pelos próprios donos de imóveis por 10,28%. Os consórcios responderam por apenas 0,31% do total vendido.
Nas quatro regiões em que é feita a pesquisa, duas tiveram queda e duas registraram alta de vendas de casas e apartamentos na comparação do período. Houve queda na Capital (- 2,76%) e no Litoral (- 9,24%) e alta no Interior (+ 5,56%) e nas cidades de Santo André, São Bernardo, São Caetano, Diadema, Guarulhos e Osasco (+ 96,57%).
Segundo a pesquisa Creci-SP, os imóveis usados mais vendidos em dezembro no Estado de São Paulo foram os de preço final até R$ 300 mil, com 56,39% do total. Na distribuição das vendas por faixas de valor, a pesquisa constatou que 56,27% se concentraram na faixa de imóveis de até R$ 4.000,00 o metro quadrado.
Os donos de imóveis concederam descontos médios sobre os preços originais de venda de 8,06% em bairros de áreas nobres (aumento de 3,2% sobre os 7,8% de novembro) e de 7,16% nos bairros centrais das cidades (aumento de 4,83% sobre os 6,83% de novembro). Nos bairros de periferia, o desconto médio foi de 6,28% (9,03% a mais que os 5,76% de novembro).
Cancelamentos superam locações
A quantidade de imóveis alugados em dezembro foi 9,6% menor que a de Novembro. Essa queda foi puxada pelo Litoral (queda de 35,71%) e pelo Interior (queda de 24,24%), enquanto que a Capital e a região do ABCD mais Guarulhos e Osasco registraram crescimento (+ 14,08 e + 2,67%, respectivamente).
O número de imóveis devolvidos por inquilinos às 1.070 imobiliárias consultadas pelo CRECISP em 37 cidades do Estado de São Paulo superou o de alugados em dezembro. Foram 23,61% a mais que o total alugado no mês.
Os imóveis com aluguel médio de até R$ 1.000,00 foram os mais alugados em dezembro, com 55,52% do total de novos contratos. Os descontos médios concedidos pelos donos de imóveis sobre os valores originalmente pedidos foram de 15,33% nos bairros de regiões nobres (+ 39,87% sobre os 10,96% de novembro), de 10,13% nos bairros de regiões centrais (- 3,98% sobre os 10,55% de novembro) e de 10,18% nos bairros de periferia (- 21,02% sobre os 12,89% de novembro).
Foram alugados mais casas (52,73% do total) que apartamentos (47,27% do total). Segundo a pesquisa, permaneceu em dezembro a preferência dos proprietários pelo fiador como forma de garantia do pagamento do aluguel em caso de inadimplência dos inquilinos: 55,48% dos contratos assinados tinham essa forma de garantia.
O restante das novas locações usou como garantia o depósito de três meses do valor do aluguel (21,81%%), o seguro de fiança (13,18%), a caução de imóveis (7,02%), a cessão fiduciária (2,13%) e a locação sem garantia (0,38%).
A pesquisa Creci-SP foi realizada em 37 cidades do Estado de São Paulo. São elas: Americana, Araçatuba, Araraquara, Bauru, Campinas, Diadema, Guarulhos, Franca, Itu, Jundiaí, Marília, Osasco, Piracicaba, Presidente Prudente, Ribeirão Preto, Rio Claro, Santo André, Santos, São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul, São Carlos, São José do Rio Preto, São José dos Campos, São Paulo, Sorocaba, Taubaté, Caraguatatuba, Ilhabela, São Sebastião, Bertioga, São Vicente, Peruíbe, Praia Grande, Ubatuba, Guarujá, Mongaguá e Itanhaém.