“Crescendo Juntas”: A sutileza em responder perguntas difíceis

Diversos filmes retratam a agem da adolescência para a vida adulta, desde filmes cômicos como Superbad (2007) de Greg Mottola até mais densos como Quase 18 de Kelly Fremon Craig, porém, o nicho de filmes que retratam a agem da infância para a adolescência ainda é pouco explorado, assim, filmes como Crescendo Juntas se destacam por meio de seu retrato sutil do período, sem perder a sabedoria em retratar temas ainda vistos como tabu dentro do ambiente social.

Fazendo parte da lista de melhores filmes de 2023 divulgada pela revista Time, e baseado no livro homônimo de Judy Blume, o filme Crescendo Juntas ou no original Are You There God? It’s Me Margaret, de Kelly Fremon Craig, retrata as mudanças que crianças e principalmente mulheres am na agem da infância para a adolescência como o primeiro amor, busca por identificação e o começo da puberdade.

Em 2010 a revista Time incluiu o livro Are you there God? It’s Me Margaret entre os 100 melhores livros escritos em inglês. Segundo a própria revista, o motivo foi a capacidade de Blume de fazer perguntas difíceis e evitar respostas fáceis, esta lógica continua presente no filme de Fremon.

Um Retrato da infância

O filme acompanha Margaret, uma jovem de 11 anos que recebe de seus pais a notícia de que irão se mudar, assim, sofrendo de ansiedade, começa a se comunicar com Deus para desabafar sobre seus medos e angústias. Na medida que questiona sua religião, vive o lirismo do primeiro amor e aumenta seu núcleo social. Ela entra cada vez mais em conflito com sua própria identidade dentro do meio familiar e social.

O que torna o filme de Fremon marcante é o contraste entre a atmosfera lúdica e infantil presente no filme, por conta do ponto de vista principal ser de Margaret, e a discussão de temas densos e considerados tabu em certos meios sociais como:

    • Primeira menstruação.
  • Bullying entre crianças.
  • Separações familiares.
  • Aceitação do diferente dentro da norma social.

 

Grande parte destes assuntos não são discutidos dentro do meio familiar por questões diversas como vergonha, medo e o receio de não saber como falar ou discutir tal sensação, assim, a produção age como um apoio e um guia para as famílias e jovens que estão ando por este momento em suas vidas, do mesmo modo que o livro de Blume fez nos anos 70.

Ao escolher esta abordagem, Kelly Fremon fez a história como um todo crescer, se aproveitando da onisciência do espectador em relação à Margaret que apresenta dúvidas sobre tudo e ainda mantém uma inocência perante o certo e o errado. É emblemático a cena da conversa com a mãe sobre seus avós. O filme mostra de modo didático eventos comuns da infância de todas as mulheres e se garante como um grande mural do circuito de afetos que as aguardam, justificando sua presença como um dos melhores filmes do ano.

O filme está disponível no serviço de streaming HBO MAX.

Por André Quental Sanchez

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