Sandra Turrin Sambugaro com marido e filhos, em Los Gatos, Califórnia

Assim que a pandemia foi decretada pela Organização Mundial da Saúde, Sandra Turrin Sambugaro fez as malas e partiu do Vale do Silício, no norte da Califórnia, para Coconut Creek, na Flórida. “Minha mãe é grupo de risco e vive sozinha. Então, fui estar em lockdown com ela”, explica a granjeira, que há 14 anos trocou a região pelos Estados Unidos. Filhos e marido ficaram na Califórnia. “Meu marido trabalhando em casa e as crianças estudando online”, conta.

Como já trabalhava há 5 anos em esquema home office, a quarentena não alterou muito sua rotina. Só mudou de endereço e clima, de uma área mais fria para uma mais quente. “Eu e minha mãe saíamos de casa apenas para caminhar à noite, com máscaras, e evitando qualquer encontro. Fazemos compras apenas online”, revela.

Marina Turrin, mãe de Sandra
Marina Turrin, mãe de Sandra, viveu na Granja por 50 anos e, hoje, mora na Flórida

Em 1º de abril, o governador da Flórida decretou a ordem de confinamento, que entrou em vigor no dia 3. Durante 30 dias, as pessoas só saíram de casa em casos de necessidade, como para ir às compras ou à farmácia. Na semana em que anunciou os planos de reabertura gradual do Estado, na última semana de abril, Ron DeSantis destacou o sucesso da Florida no combate ao coronavírus e criticou as previsões de que o sistema de saúde do estado iria colapsar com meio milhão de internamentos. “Muitos diziam que a Flórida seria como Nova Iorque ou Itália e isso não aconteceu. Adotamos medidas à medida, de cada condado e situação, que não só ajudaram a que os números fossem bem inferiores às previsões, como não prejudicaram a capacidade do nosso estado avançar depois do surto”, declarou recentemente o governador. Ele foi bastante criticado pela sua inação, ao demorar a adotar algumas medidas, enquanto condados e cidades tiveram que agir por conta própria. Coconut Creek, por exemplo, onde Sandra está, emitiu ordens de recolher obrigatório em março.

Se por um lado DeSantis foi criticado pela demora, na outra ponta, o governador californiano Gavin Newsom sofreu pressão pelas medidas mais rígidas adotadas. Sandra acompanhou ambas as situações. “Eu moro em Santa Clara, que foi o epicentro do vírus na Califórnia, e acredito que as medidas rígidas adotadas foram corretas. Ao chegar na Florida, fiquei surpresa ao ver muitas pessoas ainda nas ruas e nas praias. Enquanto estive lá, as restrições aumentaram, talvez tardiamente”, opina.

Homem com máscara caminha em Hollywood, na Califórnia (Foto: Valerie Macon/AFP)

Califórnia foi o primeiro Estado dos Estados Unidos da América a emitir uma ordem de confinamento para seus 40 milhões de habitantes, no início de março. Desde então, protestos para o retorno das atividades na Califórnia aconteceram em diversas regiões, principalmente onde a covid-19 causou sérios problemas de ordem econômica.  A Califórnia, quinta maior economia do mundo até então, terá que cortar gastos e fazer empréstimos para compensar o déficit de mais de US$ 54 bilhões causado pela pandemia.

Desde o dia 08 de maio, algumas restrições foram relaxadas por lá. As atividades de manufatura e logística no setor de varejo puderam retomar, mas escritórios, shopping centers e restaurantes permanecem fechados. A próxima etapa, como reabertura de salões de beleza, pavilhões esportivos e reuniões religiosas, não ocorrerá antes de alguns “meses”, alertou o governador Gavin Newsom.

Manifestantes pediram o fim do isolamento social em protesto na região praias de Huntington Beach (Getty Images via AFP)

A pressão para afrouxar as restrições e reativar a economia da Califórnia é grande. O presidente da Tesla, Elon Musk, ameaçou, inclusive, trocar o Estado pelo Texas ou Nevada por causa do conflito. A medida ressaltou a competição por empregos e acendeu uma onda de elogios ao executivo bilionário por parte de Estados que reabriram suas economias mais rapidamente em resposta aos incentivos do presidente dos EUA, Donald Trump.

Despedindo-se da mãe

Situações políticas e econômicas à parte, depois de dois meses e meio em lockdown com a mãe, Sandra retornou ontem (21/05) para Los Gatos, na comunidade de Santa Clara, na Califórnia. Em suas palavras, o que viu, durante a viagem de volta, foi “surreal”. “Aeroportos vazios, porém, voos lotados pela diminuição de aeronaves em trânsito. Obrigatório uso de máscaras durante todo o voo, sem serviço de bordo. Foi uma verdadeira aventura… sensação de estar indo para guerra”, descreveu. Uma viagem que, normalmente, duraria 6 horas, durou 9: “foi com escala, pois não estão oferecendo voo direto”, explicou.

Deixar a mãe sozinha a quase 5 mil km de distância não foi fácil, mas necessário. “Deixei mamãe super equipada e preparada. Vou fazer compras online para ela por aqui, pois ela não se sente confortável em manusear a tecnologia. Acho que esse é o maior desafio que vejo com a pandemia: a necessidade do idoso ficar isolado. Mas trazer ela comigo seria mais perigoso para ela”, comenta.

Estátua no aeroporto de San Jose, na Califórnia, na sua chegada

Sandra acha que precisamos aceitar que, enquanto não tiver uma vacina, teremos que seguir com as medidas necessárias de distanciamento social, uso de máscaras e higiene. “Isso é a nova realidade”, afirma. Para ela, depois que a vacina existir, o mundo, sim, será diferente. “Mas com muita coisa melhor: maior flexibilidade de local para trabalhar e estudar, novos setores de comércio e economia, e uma valorização maior da família, amigos, meio ambiente e profissionais da saúde e ciência”, aposta. Ela espera, assim como todos nós, que as mudanças positivas fiquem para sempre!

Por Juliana Martins Machado

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